Danilo Tamelini

Ficha Técnica

Idade: 33 anos
Profissão: Empresário/Empreendedor
Estado Civil: solteiro
Propósito: Usar a mobilidade para promover a sustentabilidade ambiental
Desafio: Empreender dentro de uma empresa familiar
Empresa Familiar: Ipojucatur
Cargo: Diretor Executivo
Seu sonho: BUSUP

Entrevista completa

Frases de destaque

Danilo Tamelini: "Para que um negócio tenha sucesso é preciso ter um propósito bem definido." "Estamos entrando na era do "não ter". A nova economia que está chegando é a do compartilhamento."

Danilo Tamelini é o filho mais novo de Sílvio Tamelini, CEO da Ipojucatur, uma empresa familiar tradicional, fundada em 1976 com a missão de oferecer serviços de transporte para passageiros. Danilo foi escolhido como Embaixador Defamília por ser uma prova de que é possível suceder um negócio familiar e ao mesmo tempo inovar e seguir o seu próprio sonho. Como ele mesmo diz, em um dos depoimentos abaixo colhidos durante uma entrevista exclusiva para o site Defamília, “Se você tem um sonho, tem que compartilhar com a família e provar para o seu pai, para quem for, que o seu negócio faz sentido, que você acredita nele, e que ele realmente pode dar retorno. Você tem que ter muita persistência.” Assim é Danilo, uma pessoa determinada a fazer a diferença não só na história da sua família, mas também na do país. “O Brasil tem jeito porque é um país maravilhoso, tem todos os recursos possíveis, só falta gestão.”

Só no meu retorno de Londres é que comecei a trabalhar na Ipojucatur.

Sou formado em administração de empresa pela Trevisan, pós-graduado pela USP e tenho o curso PDD (Programa de Desenvolvimento de Dirigentes) da Fundação Dom Cabral.
No meio da faculdade comecei um estágio em uma multinacional. Fiquei por 3 anos nesta empresa. Entrei como estagiário e saí como analista. Fui fazer um intercâmbio em Londres, que era meu sonho. Só no meu retorno de Londres é que comecei a trabalhar na Ipojucatur, onde estou há 9 anos e meio, direto.

Eu não queria aquilo para minha vida…

Foi bem complexa a aceitação da minha parte de trabalhar na empresa da família. Por que? Bom, eu tenho dois irmãos mais velhos que trabalharam na empresa, mas não tiveram sucesso por conta do relacionamento com a família. Eu não queria aquilo para minha vida. Quando eu comecei a trabalhar em uma multinacional foi um jeito de eu mostrar para minha família, para meu pai especialmente, que eu poderia ter uma vida independente da empresa, que eu tinha uma competência executiva suficiente para seguir uma vida profissional fora da Ipojucatur, com um negócio próprio. Na minha volta de Londres, trazia essa dúvida: vou voltar para a empresa da família ou vou para o mundo corporativo tradicional?

Pode ser que lá na frente eu vá me arrepender muito se não tentar.

Foi nessa fase que pensei: eu preciso me dar a oportunidade de trabalhar na empresa da família porque pode ser que lá na frente eu vá me arrepender muito se não tentar. Eu sou o mais novo, não tem outra geração depois de mim. Via que meu pai, por uma falta de uma sucessão, estava perdendo o entusiasmo.

“Vai depender muito de nós, não só de mim.”

Eu nunca tive que lidar com o “você tem que,” mas quando voltei para o Brasil meu pai me perguntou: “E aí? E a empresa?” Eu disse, “Vai depender muito de nós, não só de mim.” Os 3 primeiros anos foram muito difíceis porque eu não me encontrava. Não tinha uma posição na empresa para mim, eu não tinha um cargo oficial, ficava procurando meu lugar. Fazia um pouquinho aqui, outro ali… Eu tive que ter muita persistência.

Eu virei uma espécie de mediador da família.

Nós somos 3 irmãos completamente diferentes um do outro. Eu sou o que sempre teve vontade de fazer algo diferente. E tenho um papel na família que fui visualizando com o tempo. Eu consigo ter um diálogo com todos, independentemente de quem seja. As pessoas me escutam e me respeitam, por mais que eu seja o mais novo. Eu virei uma espécie de mediador da família. Por um bom período foi pesado para mim porque você acaba entrando na vida das pessoas e esquecendo um pouco da sua. Daí eu comecei a fazer terapia e isso me ajudou muito a entender que tenho esse papel, mas que também tenho minha vida, minhas coisas.

Eu tenho esse peso nas costas de que preciso manter esse negócio vivo e próspero.

Minha visão é conseguir perpetuar a empresa saudável e poder manter uma base material financeira para minha família. Hoje é meu pai quem proporciona tudo para a nossa família. Eu tenho esse peso nas costas de que preciso manter esse negócio vivo e próspero. Isso me preocupa muito. E sempre baseado muito nos ensinamentos do meu pai, de ética, de respeito. Acho que meu pai tem bastante orgulho de mim, do que faço, muito pelo reconhecimento que tenho no próprio segmento do transporte e pelos elogios que fazem sobre mim para ele.

Eu tenho tentado vender para as empresas esse lado social e sustentável do serviço.

Criei a BUSUP pensando em melhorar a vida das pessoas, da sociedade em geral. O que eu estou fazendo é transformando um modelo tradicional existente em um modelo tecnológico que possa fazer mais sentido para a sociedade e para que nossos clientes tenham uma visão diferenciada do nosso serviço. Estamos falando da era do compartilhamento. Então vamos compartilhar um ônibus! Cada ônibus tira das ruas 23 carros. Cada ônibus tem 20 metros, enquanto os 23 carros representam quase 150 metros de ocupação em uma via. Falando de poluentes, cada carro emite o equivalente ao que um ônibus emite. Eu tenho tentado vender para as empresas esse lado social e sustentável do serviço. É mais um modo de locomoção para as pessoas, mas com um propósito de impacto muito maior.

Empreender é um arrojo.

Para mim, empreendedor não é uma profissão. Empreender é um arrojo, uma vontade de fazer algo diferente. Me vejo como empreendedor, mas sou na verdade um empresário.
Eu tive um insight, estou empreendendo, mas vou ser o empresário disso tudo, o gestor.

Não vou abrir mão da IPOJUCATUR.

Eu sempre quis fazer algo diferente, sempre quis fazer algo que pudesse mudar a vida das pessoas e, em paralelo, ganhar dinheiro com isso. Eu sempre li e sempre gostei de me espelhar em vários empreendedores que têm no mercado. Acompanho diversos, muitos brasileiros excelentes como Tallis Gomes, do Easy Taxi. Sempre acompanho esse pessoal do empreendedorismo e eles falam que se você quiser empreender, tem que ser 100% dedicado a esse negócio. Mas não vou abrir mão da IPOJUCATUR porque é a empresa que sustenta minha família, é a que me sustenta, então eu tenho que achar um jeito. Trabalhar 14 a 15 horas por dia para empreender. Eu sinto que estou 100% nisso, mas é um grande desafio.

Eu entendo de transporte, não entendo de horta orgânica.

A minha família teve vários negócios. Tudo o que a gente ousou fazer fora do transporte, não deu certo. Então, o que eu sei fazer? Eu entendo de transporte, não entendo de horta orgânica. Então deixa eu colocar minha energia no que sei fazer e tentar melhorar aquilo que tem um leque de oportunidades. Eu tenho 2 empresas, a BUSUP, um aplicativo para compartilhamento de ônibus, e uma de tecnologia que desenvolveu um roteirizador de transporte. Vou explicar: você tem uma empresa com 500 funcionários e quer implantar o fretamento. Funciona assim: eu jogo esses funcionários no mapa, coloco todos os parâmetros que eu quero, qual a distância máxima que eu quero que esse carro rode, quanto tempo eu quero que ele rode, quantas pessoas no máximo em cada veículo, e ele calcula as rotas que melhor atendam a essas demandas. Essa empresa é em Taubaté e tenho um sócio que toca ela lá. Eu vou numa reunião para falar de roteirizador, não manjo nada de tecnologia, mas sei tudo sobre transporte. Pode vir o que for. E os caras que vão fazer a reunião, não vão perguntar sobre o algoritmo da ferramenta, eles querem saber que solução essa ferramenta vai me trazer. Eles sabem dos problemas de transporte que eles têm e eu vou levar as soluções para eles.

Empreender é um desafio de maluco!

Você nunca vai estar preparado para empreender no Brasil. Isso aqui é um desafio de maluco! Você tem que querer muito, acreditar muito no projeto que você quer montar porque o governo e até as próprias instituições privadas como os bancos dificultam tudo, num extremo que você chega ao ponto de chorar. Tem que estar muito determinado. Se você quer empreender no Brasil, quer ter sucesso, esteja preparado para os desafios porque eles não acabam nunca!

Minha dica para quem quer empreender trabalhando com a família, em paralelo.

Se você tem um sonho, tem que compartilhar com sua família. Nem sempre você vai ter o apoio, mas é importante compartilhar. Você tendo o apoio fica mais fácil você ir em busca do seu sonho.

Quando fui apresentar minha ideia para minha família, eu tinha um plano de negócio pronto.

Existe uma relação familiar que você tem de investir e você tem de provar por A + B porque você está fazendo isso e porque faz sentido e porque você vai despender algumas horas de seu dia fora do negócio principal. Você tem que provar para o seu pai, para quem for, que seu negócio faz sentido, que você acredita nele, que ele realmente pode dar retorno. Não chega com uma ideia do além, ah quero fazer isso…Quando fui apresentar minha ideia para minha família, eu tinha um plano de negócio pronto. Foi como se eu estivesse mostrando para um investidor. Cheguei preparado para ele. Mostrei tudo, até onde poderia conflitar com os negócios da família – porque pode ter conflito em algum momento. Eu posso criar uma concorrência do BUSUP com a Ipojucatur. Então foi tudo muito bem esclarecido. E foi aprovado.

Se o sucessor não está feliz, acho que ele tem de seguir o rumo dele.

De duas, uma. Se a geração que está chegando na empresa familiar estiver convicta de que o negócio, o empreendimento dela vai dar certo, a primeira geração vai acabar perdendo o possível potencial de sucessão. Meu negócio está dando certo porque existe a aprovação do meu pai. Acho que as pessoas não devem trabalhar numa empresa sem ser feliz no trabalho. Tem que buscar alguma coisa que realmente faça sentido. Se o sucessor não está feliz, acho que ele tem de seguir o rumo dele. Acho muito melhor ser feliz fazendo o que você quer fazer, do que você ser infeliz para fazer a felicidade dos outros, mesmo que seja a do seu pai e da sua mãe.

Mostrei para meu pai que o modelo de negócio está mudando muito, que o mundo está mudando demais, e que se a gente não mudar, a empresa morre.

Tivemos diversas conversas falando do seguimento em si. Mostrei para meu pai que o modelo de negócio está mudando muito, que o mundo está mudando demais, e se a gente não mudar, a empresa morre. Ele estava aberto para falar e conseguiu ver isso. Se você olhar de 2014 pra cá, já surgiram muitas novidades… Hoje você tem o 99 Corporate, tem o Movin Empresas, tem um monte de moldais tirando o passageiro do modelo tradicional. Ou a gente faz alguma coisa diferente ou tá fora.

Ou a gente contrata uma empresa de governança familiar para lidar com nossas questões ou eu estou fora.

O Defamilia foi o divisor de águas para mim. Eu apelei para o meu pai, “Ou a gente contrata uma empresa de governança familiar para lidar com nossas questões ou eu estou fora.” Eu trabalhava e ganhava 3 mil, minha irmã que não trabalhava tinha os custos da casa dela bancados pelo meu pai no valor de 12 mil. O meu pai sempre teve esse empoderamento financeiro dele. Era o provedor e sabia usar muito bem isso. Se você não organizar a família antes de organizar o negócio, pelo menos o básico da família, não vai ter sucesso no negócio. Você organizado já tem um risco enorme!…

Enquanto eu não conseguir provar que é um negócio de impacto social, talvez eu não consiga evoluir.

O que mais as pessoas fazem é reclamar. Você vai nos encontros e é um chororô danado, tem distribuição de lenços! Eu estou sofrendo várias ameaças de empresas pequenas, regionais, que têm 2, 3 ônibus. Começou a migrar passageiro deles para o meu modal e o cara não consegue enxergar que isso é uma mudança. Enquanto eu não conseguir provar que é um negócio de impacto social, talvez eu não consiga evoluir. Talvez possa vir um órgão regulamentador e cortar as minhas pernas no meio, que é o que acontece muito no Brasil. Por isso que é difícil empreender no país. É um processo disruptivo, nossas leis não têm nada a ver com essa realidade. Você acaba esbarrando nesse sistema.

O Brasil tem jeito porque é um país…

Eu acredito que o Brasil tenha jeito sim. O brasileiro é muito persistente, tem muita gente boa, que está querendo gerar emprego, fazer diferente. O Brasil tem jeito porque é um país maravilhoso, tem todos os recursos possíveis, só falta gestão. O Brasil é um dos países mais empreendedores do mundo, mas ainda é muito por necessidade. Falta organizar.