FÁBRICA DE ASAS

1968

Os pais de Lúcia e Dalva concluem a reforma em um galpão de uma fábrica desativada há alguns anos. Com vinte alunos, divididos em três pequenas salas, as duas irmãs iniciaram as atividades da “Fábrica de Asas”.

Dalva, a mais nova, havia concluído o Magistério e ingressara no movimento estudantil contra a ditadura militar, fato que deixava seus pais muito preocupados. Aliás, a fundação da escola era uma estratégia para trazê-la mais próximo da família e que reduzisse os riscos a que vinha se expondo.

Lúcia, pedagoga de grande talento, estava casada com Homero havia 5 anos e sonhava com uma escola diferenciada para seus filhos: Augusto, com 3 anos, e a pequena Patrícia de apenas um aninho.

Homero terminara o curso de Direito e tentara, sem sucesso, alguns concursos para a magistratura, promotoria e outros cargos da carreira pública. A chegada do primeiro filho exigiu-lhe reduzir as ambições e colocar dinheiro em casa.  Assim, iniciou uma carreira razoável na advocacia: divórcios, cobranças, locação imobiliária e até mesmo algumas causas criminais, davam-lhe o suficiente para o honroso sustento da família, sem depender dos sogros.

OS PRIMEIROS ANOS

A família reunida, idéias inovadoras, vitalidade e entusiasmo das jovens educadoras, tudo somava e fazia a escola crescer e ganhar fama.

De 20 passaram para 80 alunos e já em fevereiro de 1970 celebravam a marca de 200 matrículas. Reformas, ampliações, investimentos, contratações, treinamento, elaboração de material… Parecia impossível conseguir tempo ou interesse para qualquer outra atividade.

Porém, para Dalva, ainda sobrava energia para a luta política e foi assim que a história sofreu grande reviravolta: presa e exilada, deixou embasbacados alunos, pais e funcionários.

    

 

O GOLPE DE 74

O pior ainda estava por vir. Na primavera de 74, buscando alívio para o stress de gerenciar uma escola e para a dor da filha ausente, o casal viajou para uma ilha, cujo anúncio promocional prometia ser o “Paraíso na Terra”.

Crê-se que foram para o Paraíso, pois jamais voltaram à terra firme. Vítimas de um naufrágio com apenas três sobreviventes, não foram encontrados apesar das buscas por dias e dias, em inúmeros quilômetros quadrados de oceano.

Lúcia sentira o golpe. Com 31 anos de idade, órfã de pai e mãe, herdeira de uma empresa com 65 funcionários, sem saber onde estava a irmã, tinha de suportar a dor inconsolável de se ver sozinha e incapaz de reagir. O mar agora lhe roubara pai e mãe, um ano antes lhe inspirara o nome da terceira filha: Marina.

DE TENENTE A GENERAL

Entre o sumiço da cunhada e a tragédia dos sogros a carreira de Homero prosseguia firme com rendimentos crescentes, especialização e melhora na carteira de clientes. Montou escritórios, selecionou sócios, ampliou o negócio. Só não era tão comentado o seu sucesso como empreendedor porque o Colégio da mulher crescia em escala três ou quatro vezes maior.

Quando foi desafiado, porém, Homero mostrou-se forte. Amparou a esposa, cuidou dos filhos até que ela superasse a depressão, foi hábil ao conduzir o complexo processo de inventário. Vendeu sua parte no escritório e assumiu o comando da “Fábrica de Asas” superando a crise e voltando a crescer.

GALERAS E GALERIAS

A saga de Lúcia e Homero no Brasil era digna de um livro. E a história de Dalva no exílio, no mínimo, uma trilogia: “Chegada”, “Galeras” e “Galerias”. Chegou à Europa e logo se adaptou.  Conheceu muita gente interessante, viajou para tantos lugares, comeu, rezou e amou… O livro “Galeras” certamente seria best seller.

Em janeiro de 80, Lúcia, Homero e as crianças, foram para Europa encontrar Tia Dalva e contar para ela que a escola tinha agora mais de 1000 alunos!

Curtindo o inverno parisiense com a família, Dalva adorou as notícias da “Fábrica de Asas” e ao lado da lareira brindou o sucesso e cumprimentou o cunhado. Outro Champagne!

E mais brindes, agora para comemorar uma nova obra de arte vendida. Em seu terceiro emprego, Dalva já era a melhor vendedora da maior galeria de arte de Paris.

Augusto e Patrícia gostaram da neve, mas não da comida. Marina adorou a neve, as luzes e ficou apaixonada pela tia Dalva.

 

UNHA E CARNE

Augusto formou-se em administração e sempre teve o pai como modelo de gestor empresarial. Patrícia espelhava-se na mãe, cursou pedagogia e estagiou no colégio junto com sua melhor amiga, Melissa.

Augusto e Patrícia eram unha e carne e Melissa, de tão amiga de uma, tornou-se namorada do outro. Depois do estágio, trabalhou um tempo na escola, mas por influência da sogra, foi demitida pelo namorado no final de 94. Demitida do emprego e promovida no relacionamento, noivou, casou e, depois de alguns anos, veio a Bruna.

Enquanto Augusto assumia mais responsabilidades no Colégio e aprendia cada dia mais sobre a experiência do Sr. Homero, Melissa começa a achar que cuidar da casa e da filha estava se tornando um pouco tedioso. Patrícia era coordenadora pedagógica, mas preferia o trabalho de orientação educacional. Aliás, era ótima na mediação de conflitos e administrava muito bem as relações com pais, irmãos e cunhados. Era a porta-voz dos pais e do irmão nas conversas com Marina e sempre conseguia um telefonema ou uma visitinha no domingo para as crianças verem os avós.

Seu próximo desafio seria convencer Lúcia a permitir que Melissa volte para ajudar na escola.

OVELHA NEGRA

Formada em Turismo, Marina adora viajar. Aos 7 anos fez sua primeira viagem internacional: aquela para Paris. Com 17 fez intercâmbio de seis meses na Austrália e trouxe no ventre a linda Inauê. De crise familiar em crise familiar, entre uma viagem e outra, Marina amadureceu. Sempre distante dos pais e irmãos encontrou apoio e segurança no seu companheiro, Nelson. Homem doze anos mais velho que ela, com dois filhos do primeiro casamento, viu em Marina a alegria de viver que quase escapou-lhe entre os dedos. Casaram-se na praia e têm dois filhos juntos, Benício e Serena. Mais a Inauê e os gêmeos dele: Ricardo e Eduardo.

A tia Dalva é seu ídolo maior e as duas sempre se falam pela internet. Marina é digital influencer conhecida e respeitada pelas dicas de restaurantes, baladas e points internacionais. Os patrocínios rendem-lhe dinheiro suficiente e ótimas oportunidades de passeios e diversão.

Nelson é engenheiro autônomo e acompanha a esposa em muitas ocasiões. Agora estão pensando mais no futuro dos filhos e tentando ajudar Inauê, de 18 anos, a se decidir sobre estudos e trabalho.

ACONTECEU DE NOVO

Dalva está de volta ao Brasil. A notícia do diagnóstico de câncer na irmã mais velha foi o que faltava para decidir-se definitivamente por retornar às raízes. Acompanhou de perto os últimos meses de Lúcia e conseguiu trazer mais perto a família de Marina.

Por mais que tente, não consegue acreditar em Homero e tal desconfiança vem se depositando também no sobrinho mais velho, Augusto.

Com 67 anos de idade e conservando a vivacidade no olhar desde o tempo dos primeiros alunos da Fábrica de Asas, quer reassumir a direção da escola e consolidar o legado da irmã. “Sonhamos uma história juntas, não pudemos escrevê-la lado a lado, mas posso resgatar o espírito jovem e transformador da Fábrica de Asas!” – pensou ao se despedir da irmã.

 

 

 

Reunião de família empresária

A Fábrica de Asas, hoje com 2100 alunos é líder de mercado, tem fama de ser a maior e melhor escola da região, com resultados extraordinários. “Profissionalismo e excelência” é praticamente o lema dessa empresa de meio século.

Por outro lado, Dalva, proprietária de 50% do imóvel e das cotas sociais da escola, pensa diferente. Não podemos medir o sucesso da escola por número de alunos ou posições em vestibulares. Perdemos nosso espírito transformador, não damos espaço para as artes e a expressão individual. Não foi isso que Lúcia e eu sonhamos, não será esse o nosso legado.

De um lado da mesa estão Homero, Augusto e Patrícia. Do outro lado: Dalva, Marina e Inauê.

Dalva inicia dizendo:

– Por muitos anos minha irmã deixou a escola com vocês. Eu reconheço que fizeram o seu melhor e agradeço. Mas vou assumir a sucessão dela, pois esse legado é nosso. Temos de conversar.

 

 

Para a história ter um desfecho harmônico e gerar bem estar a todos, seria necessário as ferramentas da Governança Familiar que dariam o apoio certo, com propostas de direcionamento para se encontrar uma solução que atendesse a todos os interessados.
Você sabe como estas ferramentas, abordadas pelo DeFamilia funcionam em casos como este?
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