A mediação como aliada da convivência familiar

Em mais um novo episódio da série “Convívio em Família”, a Defamilia trouxe Ana Luiza Isoldi, fundadora da Algi Mediação, para bater um papo sobre como a essência da mediação agrega à convivência familiar.

A Algi Mediação é um espaço composto por profissionais independentes, especializados em gestão de conflitos, para facilitar a convivência e acompanhar as pessoas em fases de mudança que implicam em decisões. Ana trabalha com mediação há mais de 15 anos, explorando a mediação em diferentes vertentes.

A convivência familiar nos tempos de isolamento social

 

O isolamento social está sendo adotado como medida preventiva para a pandemia da Covid-19 e, consequentemente, tem amplificado a convivência familiar. Esse é um tema bastante interessante de se falar porque quanto mais estreita a convivência, mais conflitos surgem. O que é normal. As pessoas têm percepções diferentes, vontades, interesses. E assim começam as cobranças e conflitos.

O mediador é um profissional que olha para esses movimentos que vão surgindo, olha para as interações e relações humanas e, de alguma forma, apoia as pessoas nesse caminho, a encontrar uma saída quando não sabem o que fazer.

A essência da mediação e suas características

 

A colaboração é uma das características da mediação. Parte deste processo é desenvolver formas das pessoas trabalharem e fazerem atividades juntas, com um propósito em comum.

Mas quando falamos dessa convivência mais íntima que estamos vivendo dentro de casa, devido às medidas de isolamento social, percebe-se muitas relações de interdependência e reclamações. O que precisa ser feito nestas situações é estabelecer o diálogo. O diálogo auxilia muito na tomada de decisão pois estabelece uma sequência lógica, que termina com um acordo ou a percepção que tem uma solução melhor fora da mesa de negociação. Nesta conversa, dois pontos devem ser colocados em cima da mesa: a colaboração e os interesses de cada um.

Interesse é tudo aquilo que é muito significativo para uma pessoa. Que, muitas vezes, simplifica o que a pessoa está pedindo. Quando a gente se acostuma a pensar pautado nos interesses, costuma ajudar bastante nesses momentos de estresse nesse convívio tão íntimo.

Além disso, antes da pergunta está a escuta. A escuta mais afinada e apurada faz com que a gente consiga ter mais elementos. E quando há dúvidas, as perguntas podem ser feitas. Mas é preciso ter cuidado com o jeito de perguntar, a precisão, a entonação da voz, sem induzir respostas. Tudo isso é importante neste momento de tensão. Perguntar para escutar.

Outro ponto essencial na mediação é que se pressupõe que os acordos precisam ser bons para todos. Não adianta convencer o outro do que é bom só para você. O outro vai se fechar diante dessa postura. A negociação pressupõe troca. Sem trocas as relações não prosperarão.

A autorreflexão e os processos de mudanças

 

Há muita reflexão sobre relações e finitude acontecendo por conta da pandemia da Covid-19. O que vem causando estas reflexões são as muitas mudanças que estamos encarando. A mediação lida com mudanças. Normalmente temos uma mudança que gera um conflito ou um conflito que gera uma mudança, sem sabermos o que vem primeiro. E o que o mediador faz é ajudar as pessoas em processos de mudança.

A Covid-19 trouxe mudanças radicais em diferentes setores da vida e de uma vez só. Muitas mudanças que, juntas, são difíceis de lidar. E cada pessoa dá ênfase ao que já precisava olhar
antes mesmo desse cenário. Saúde, trabalho, financeiro, qualidade de vida, relações interpessoais. Essas reflexões individuais resultarão em uma mudança coletiva. Mas para cada um tem um significado diferente.

Um pouco sobre a constelação familiar

 

Criada pelo psicoterapeuta alemão Bert Hellinger, a Constelação Familiar é um método psicoterapêutico que estuda os padrões de comportamento de grupos familiares através de suas gerações. Na prática, a Constelação Familiar mostra que muitos de nossos problemas, doenças, incompreensões e sentimentos ruins podem estar ligados a outros familiares que passaram por essas mesmas adversidades, mesmo que não tenhamos conhecido-os.

Esse método explica que há uma repetição de comportamentos, de acordo com as gerações, mesmo que de uma maneira inconsciente. O método pressupõe uma “consciência de clã”, que é norteada por “ordens do amor”, que são elas:

– a necessidade de pertencer ao grupo;

– a necessidade de equilíbrio entre o dar e o receber nos relacionamentos;

– a necessidade de hierarquia dentro do grupo ou clã.

Tendo em mente como esse método funciona e os benefícios que aparecem com o estudo dos comportamentos de nossa família, isso nos ajuda com a melhoria das relações familiares, relações no ambiente educacional e, consequentemente, melhorias nas relações interpessoais nas empresas.

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A essência da mediação está ligada à responsabilidade pelas nossas escolhas, à escuta, à compreensão do que é importante para o outro, ao entendimento dos seus próprios interesses e a colocá-los na conversa. A mediação pressupõe fazer conversas difíceis, com cuidado, sendo boa para todos, focando no que é realmente importante e buscando soluções criativas para essas situações.