CONVÍVIO EM FAMÍLIA – PAPO RETO

E AGORA? O QUE MUDA?

Na última semana a Defamília realizou mais um webinar, ao vivo, da série “Papo Reto” com a Flávia Cunha, Fundadora da Casa Causa, e a Vânia Bueno, Fundadora da Anima Convivência Produtiva, para falar sobre o papel do ser humano, como indivíduo, e do empresário neste momento inédito que vivemos.

Quem não teve oportunidade de participar, pode conferir o material aqui.

Conhecendo um pouco sobre quem participou deste bate-papo:

Flávia Cunha, fundadora da Casa Causa, é psicóloga, com carreira executiva e empreendedora, e vem atuando há mais de 20 anos promovendo processos de desenvolvimento humano e transformação em empresas. Apaixonou-se pelo tema da sustentabilidade e hoje atua como articuladora de projetos e grupos ligados à causa, além de desenvolver projetos para empresas que querem colocar em prática a sustentabilidade.

Vânia Bueno, fundadora da Anima Convivência Produtiva, é uma comunicadora que escolheu o desenvolvimento humano e organizacional como área de interesse. Atua também como professora, consultora e facilitadora em processos de co-aprendizagem. É jornalista, especialista em Comunicação Empresarial, com mestrado em Organizational Development and Positive Change pela Case Western Reserve. Atua como consultora, mentora e palestrante. É professora convidada para cursos de pós-graduação e educação executiva. Membro voluntária IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa.

Priscilla Mello, fundadora da Defamília Estratégia para Famílias Empresárias, empresa especializada na geração de propósito coletivo nas famílias empresárias através da governança familiar, possui MBA em Gestão Empresarial pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA e Especialização em Marketing pela University of Berkeley, na Califórnia/EUA. Atua como consultora empresarial, com foco nas famílias empresárias.

Diante deste cenário de crise causado pela pandemia da Covid-19, a pergunta que não quer calar é: o que muda agora?

Vânia Bueno – É difícil falar de um contexto tão complexo quanto este que vivemos. Do meu ponto de vista tem muito a ver com comunicação. Fomos sempre muito interdependentes, muito conectados, e, por conta de um inimigo invisível como esse vírus, a gente se vê diante de tudo parado. O vírus não respeita as fronteiras, criadas por nós mesmos, como as geográficas, culturais e sociais. O vírus nos desafia e nos faz olhar para a realidade de uma outra forma. E é nessa visão que eu destaco o papel de cada indivíduo. Hoje em dia, todo mundo produz, edita e distribui conteúdo. E isso tem um impacto enorme na vida das pessoas. Talvez o ponto mais nevrálgico dessa crise seja a comunicação. Está todo mundo junto em casa, a escola voltou para dentro, o trabalho se tornou remoto. Estamos vivendo uma experiência de convivência inédita. A gente precisa entender comunicação como comportamento, não é só o que a gente fala. É um desafio humano muito grande, mas também muito rico.

E como as pessoas estão se comportando?

Flávia Cunha – A pergunta é como as pessoas estão conversando dentro de casa. Quais os temas que vinham antes e os que vem hoje? Você fala do medo, do que não gosta no outro, dos seus limites, do que quer fazer depois que isso tudo passar. Mas o mais importante é o pensamento do coletivo. Pensar em coisas que não pensava antes. Por exemplo, as empresas nasceram para que? Para atender a necessidade das pessoas. A revolução industrial trouxe uma era de consumo. Teve prosperidade mas muita crise também. O consumismo aumentou. As empresas começaram a olhar cada vez mais para o lucro próprio. Tudo isso gerou um grande consumo, o desperdício, a desigualdade e muito egocentrismo também. A gente se voltou muito para nós mesmos. E fomos tirando recursos de fontes que não suportam mais. A gente só foi tirando e sugando todos os recursos. E isso se tornou insustentável. Esse momento é uma grande oportunidade para olharmos o que precisamos eliminar para desintoxicar.

A gente precisa entender que é possível viver com menos consumo. Mas não sabemos ainda o que colocar de novo nesse vazio estabelecido. É um momento para grande reflexão, certo?

Vânia Bueno – a gente está hiper excitado pela comunicação disponível hoje. Então a reflexão com este isolamento é sobre o que queremos conservar da vida? Vou me isolar e eu preciso garantir o mínimo para a minha sobrevivência. O que eu preciso para garantir isso para mim? O que é essencial? O que foi que mudou na sua vida quando a quarentena começou e que você quer manter depois que terminar? A gente precisa ter esse olhar apreciativo. Situações de grandes mudanças provocam muito medo. E o medo faz com que a gente se proteja. Faz com que a gente queira aumentar o muro, aumentar a distância, economizar. A gente pode ser motivo por dois sentimentos: o medo ou a esperança. E se utilizarmos a esperança para mudar a perspectiva? E se a gente conseguir mudar isso para um mundo melhor? A pergunta é parte da transformação. A escolha que podemos fazer agora de como vamos encarar esse momento. Se a gente se fecha e se protege ou se abre e vai ao encontro do novo, do desconhecido. Essa escolha pode fazer toda a diferença para o indivíduo, para o coletivo, para a empresa, para tudo.

Como podemos olhar para as pessoas que estão perdendo seus empregos e ajudar a construir algo diferente?

Flávia Cunha – É preciso de compaixão. Olhar para o outro e ver o que ele precisa. Muitos empresários estão preocupados que a bolsa caiu, que o faturamento despencou, mas o resultado financeiro dele ainda está incrível. Ele não está enxergando o que está ao seu lado, as pessoas, e que ele tem um papel fundamental para fazer a diferença neste cenário. É o dilema do sonho individual x sonho coletivo. É preciso conectar as pessoas. Propósito no papel é muito bonito, mas o que as empresas estão fazendo na prática? Felizmente há muitos exemplos de empresas protagonistas que saíram na frente fazendo coisas que fazem diferença. E isso traz esperança.

Vânia Bueno – Recentemente o Itaú anunciou a doação de 1 biilhão. Porém, existe uma predisposição da sociedade em acreditar que essas instituições não farão nada. É um preconceito de uma relação cansada e viciada, na qual vimos muito pouco ser feito, mesmo com lucros de bilhões ao longo do ano. Muitas pessoas estão falando que a doação é pouca, que poderia ser mais, que estão fazendo só por marketing. As pessoas tem a impressão que as empresas são exploradoras da sociedade. Esse momento único e inesperado que estamos vivendo pode sacudir essa relação. Mesmo fora da crise as empresas poderiam criar fundos provenientes do seu lucro líquido para auxiliar pessoas ao longo do tempo. Coisas que poderiam minimizar a miséria que vivemos e criar uma sociedade mais próxima, mais equilibrada.
 Como o empresário usa o seu papel de líder para influenciar positivamente e promover a mudança?

Vânia Bueno – As pessoas estão sendo colocadas em primeiro lugar. Sobrevivência em segundo. E em terceiro lugar o caixa da empresa. Essas tem sido as prioridades das pautas dos conselhos das organizações. Mas o quanto as empresas estão preparados para lidar com “pessoas”, sendo que durante muitos anos as pautas prioritárias sempre foram as financeiras e de mercado? Essas empresas precisam de ajuda para saber o que fazer. E quando se fala em “sobrevivência”, entender que não é apenas a sobrevivência da empresa ou do funcionário. Trata-se na sobrevivência de todos, como uma rede. E sobre o caixa, por que é tão difícil pensar em perder dinheiro. O resultado deve ser um filme e não uma foto do momento. O quanto já foi ganho ao longo do tempo? A riqueza está no fluxo da vida e não no extrato do mês.

Então o que realmente importa?

Flávia Cunha – A solução está no conjunto. O sonho é coletivo. O “cuidar” está em evidência. Cuidado com tudo, no geral, não só com o vírus. Como cuidar do outro.

Confira o webinar completo aqui e não deixe de ver também como os líderes devem se preparar para este momento de transformações.