O que será da minha vida se meus filhos não me sucederem?

Por João Marcos Varella

Quando olho para minha família, percebo como o tempo passou rápido, como meus filhos cresceram e mal pude acompanhar a evolução deles e me deparo com a triste verdade de que dediquei mais tempo aos negócios do que à família.

Meus filhos, agora adultos, estão cheios de motivação e esperança para construir a vida deles e eu tenho um desafio e a dúvida: devo envolvê-los no meu negócio e integrá-los em decisões que eu sempre tomei sozinho ou deixá-los trilhar seus próprios caminhos? Mas caso não os envolva no meu negócio, de que terá valido todo meu esforço?

A maior dificuldade é fazer com que adquiram a experiência e a maturidade necessária, pois já tentei vários caminhos que não trouxeram o resultado desejado. Experimentei colocá-los no negócio para aprenderem, mas em pouco tempo já estavam desmotivados. Assumo que posso ter errado ao distribuir certas responsabilidades para eles e acredito que não eram as atividades que eles desejavam, mesmo passando por várias áreas da empresa.

Sem idéia dos esforços necessários para a empresa atingir seus objetivos, meus filhos manifestaram frustrações com o trabalho designado e suas expectativas estavam longe de serem realizadas, especialmente por saberem de sua formação de alto nível e se considerarem prontos para maiores cargos e responsabilidades.

Procurei o diálogo, querendo saber de suas insatisfações e, para mim, ficou claro que não despertei neles a paixão pelo negócio e nem ao menos o respeito ao meu trabalho e ao meu esforço para construir esta empresa.

Fiquei tremendamente desapontado, pois foram muitas noites sem dormir, ausências constantes em casa, muita luta e dedicação para, neste momento, não corresponderem.

Por mais que tenha me dedicado a esta tarefa, confesso que não consegui animá-los. Percebi que eu mesmo tinha incentivado expectativas muito altas, longe da realidade, poupando meus filhos mais do que imaginava. Valorizei resultados escolares e não a superação de desafios da vida real e sem a proteção da família.

Eu estava agora diante de um problema muito maior. Terei sucessores ou não?

Caso não tenha, como fica a continuidade da minha empresa?

Pra mim, esta situação é mais complicada do que qualquer outro problema que tive que superar ao longo dos anos na gestão dos negócios. O desafio, agora, é de como ajustar as expectativas dos filhos à realidade, preservando a autonomia de cada um e torná-los independentes, sem a proteção da família.

Nosso diálogo revelou muitas coisas as quais eu ignorava. Por exemplo; eu não sabia dos planos de vida e a razão das escolhas profissionais de meus filhos. O que para mim era uma condição natural, trabalhar na empresa, para eles é uma solução para atender os meus interesses. Fiquei chocado!

Difícil aceitar que não queiram seguir o que já conquistei, mas percebi que eu nunca havia compartilhado meu estresse profissional com eles e, para mim, repetir o meu modelo era o ideal para todos.

A questão que não me sai da cabeça: o que será da minha vida se meus filhos não me sucederem?

Gostaria muito de ter uma certa liberdade para viver uma vida mais tranquila ao lado da minha esposa, com mais tempo para mim e poder curtir meus netos. Será que terei que lutar até o fim da vida?

Cada manhã, me pergunto se o meu esforço na construção de um patrimônio não me traz o benefício de usufruir uma vida mais calma e estou condenando a trabalhar até o fim dos meus dias, da mesma forma que reflito se meus filhos têm o direito de receber tudo de mão beijada?

É o que desejo para meus filhos, para a minha família?

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