Leo Figueiredo

Ficha Técnica

Profissão: economista e advogado

Propósito: compartilhar conhecimento

Empresa:  Duo Partners

Cargo: Diretora Financeira

Seu sonho: dar apoio a negócios de impacto

Entrevista completa

Frases de destaque

Leo Figueiredo: "Propósito não envolve só uma grande causa, envolve como você vai compartilhar resultado." "A empresa para mim é um projeto de vida, não um veículo para ganhar dinheiro. Se você faz a sua empresa como veículo para ganhar dinheiro, as pessoas percebem e você não ganha."

Leo Figueiredo é um homem de negócios. Mas um businessman movido a propósito. Durante 30 anos, o economista e advogado paulistano foi um dos sócios majoritários da Hedding-Griffo, uma corretora de valores que terminou sendo vendida em 2006 para o grupo Credit Suisse por centenas de milhões de reais. Foi quando Leo decidiu se dedicar a ajudar empreendedores e seus negócios de impacto social criando o Instituto Quintessa, do qual hoje é mentor.

Entrevistamos Leo em dois momentos: o primeiro, no estúdio do Civi-co, o polo de inovação social, sede do Quintessa e do Defamília (esta entrevista você pode ver no nosso canal do youtube).

O segundo bate papo foi no atual escritório dele, a Duo Partners, também em São Paulo. Leo nos recebeu com um sorriso aberto e carregando no colo um pequeno Dachshund, o cachorrinho mais conhecido como Salsicha. A imagem, por si só, já revelava o momento do entrevistado. Mais do que um empresário de sucesso, estávamos diante de um homem realizado, de uma pessoa que consegue unir trabalho e prazer, o melhor propósito da vida.

Leo Figueiredo: Meu tempo é destinado a compartilhar e compartilhar é o meu alimento, meu aprendizado, minha evolução. Compartilhar não somente histórias, mas angústias. Uma das coisas que mais me motivaram a criar o Quintessa foi a solidão de ser empreendedor. A solidão do poder, a solidão da decisão é uma coisa muito dura.

De uma família bem tradicional de São Paulo, único homem e quatro irmãs, Leo cursou faculdade de economia e direito, na USP, além de ter feito mestrado em administração na FGV. Desde o primeiro ano de faculdade, quis trabalhar e abriu um negócio de corretagem com um grupo de amigos, todos com seus vinte e poucos anos, vivendo em um Brasil marcado pela crise da dívida pública e por muitos questionamentos gerados pela ditadura. Eram os anos 80, período definido por muitos como a década perdida para a América Latina. Mas não para Leo e os amigos que começam a construir o que viria a ser um marco.

Leo Figueiredo: Foi lá que nasceu a primeira visão do que eu entendo como uma empresa de boas práticas, sustentável e legítima. É a empresa que você concede participações por mérito em um ambiente transparente, horizontal, no qual todos possam ter oportunidade e possam ser apoiados para evoluir com essa oportunidade.”

Defamília: Pelo relacionamento próximo de vocês, daria para dizer que a Hedding-Griffo era uma espécie de empresa familiar?

Leo Figueiredo: Sim, de certa forma, éramos uma família. Família é um conceito muito amplo, família é quem te acolhe, e a verdadeira família é quem te reconhece pelo que você é. O que as pessoas mais esperam é serem respeitadas pelo que são.

De família: Você tem uma preocupação com as pessoas, tanto que criou o Quintessa. Isso nasceu com você ou foi algo que aconteceu ao longo do caminho?

Leo Figueiredo: Isso nasceu comigo. Meus sócios, apesar de muito pragmáticos, me diziam que isso de cuidar das pessoas dava certo. E essa é a história da minha vida. Cuidar é prestar atenção, estar conectado com a agenda da pessoa, mas sem ser paternalista. Eu entendo que a pessoa é o mais importante para o sucesso de uma empresa.

Leo passou cerca de 30 anos tocando a Griffo, que depois passou a ser Hedding-Griffo. Ele divide esse período em duas etapas: A primeira, de 1981 a 1995, na qual o grupo exercia basicamente a atividade de corretagem de valores. A segunda, de 1995 a 2006, quando os sócios decidiram dar uma guinada e entrar no mercado de gestão de recursos e private banking, criando a Hedging-Griffo.

Leo Figueiredo: “Eu fui chamado de louco inclusive por sócios da empresa, porque não se fazia private banking fora dos bancos. Foi nesse ciclo que começamos a ser assediados pelo mercado.“

A empresa tinha então cerca de 10.000 clientes e ocupava a 19ª posição na lista das maiores administradoras de recursos de terceiros segundo a ANDIB, Associação dos Bancos de Investimento.

Leo Figueiredo: “Eu sou de um tempo mais poético no qual a empresa era a construção da sua vida, sua marca , sua reputação, seu suor. Mas as circunstâncias nos fizeram vender. Era melhor preservar a jornada construída do que insistir. E aí eu trago uma reflexão que eu acho super importante: a empresa para mim é um projeto de vida, não é um veículo para ganhar dinheiro. Se você faz a sua empresa como um veículo de ganhar dinheiro, as pessoas percebem e você não tem sucesso. Não tem bobo nesse mercado.“

No acordo de venda, os sócios (mais de 60) se comprometeram a ficar mais 5 anos na empresa com a opção de venda da segunda metade depois desse período. Mas o período acabou sendo encurtado em dois anos. Ainda sem uma ideia certa do que faria, Leo tinha na cabeça de que podia fazer algo para transformar a realidade do mundo dos negócios, dando apoio ao empreendedorismo e valorizando as pessoas.

Leo Figueiredo: A minha saída está ligada à sucessão. Eu vejo a empresa não como sendo minha. Eu sou sempre um passageiro, um usufrutuário por meritocracia. Você não pode ser dono para o resto da vida, com certeza chega um momento que você não tem qualificação para avançar mais. Eu sabia que um dia ia ter que sair e formar pessoas para um dia serem capazes de, meritocraticamente, me expulsarem. Chegou um dia em que eu percebi que era hora de deixar a empresa.“

Aí é onde entra o Instituto Quintessa, uma aceleradora de negócios que hoje funciona no polo de inovação social Civi-co, em Pinheiros (SP). O Instituto nasceu em 2009 com o objetivo de impulsionar uma nova forma de fazer negócios e, desde então, já acelerou mais de 40 negócios sociais. O trabalho rendeu a Leo o prêmio Trip Transformadores, no ano passado.

Leo Figueiredo: “A idade te traz uma série de perdas e você tem que compensar com algum ganho, senão fica muito ruim a equação. O meu maior papel era ser gestor de pessoas. Então, quando vendemos a Hedging-Griffo me vieram duas coisas à cabeça: empreendedorismo e pessoas. Isso foi amadurecendo dentro de mim, até que chamei 3 sócios e falei, “eu quero mexer com negócio social, montar uma ONG. E foi a partir desse sonho, de dar apoio a negócios de impacto, que nós criamos o Instituto Quintessa.” (ele não falou quem são os sócios?)

Defamília: Leo, qual a sua visão de negócio social?

Leo Figueiredo: “Para mim toda empresa gera impacto nas pessoas, a começar por seus funcionários. Então antes de tudo, tem que olhar para dentro: ver salários, condições de trabalho, reconhecimento … É muito comum olhar somente para fora, mesmo em empresas de impacto social. O que eu prego é que a empresa seja mais humana, pois assim ela vai ser mais social.”

Na visão de Leo, para ser um empreendedor de sucesso é preciso equilibrar propósito e resultado para que a empresa seja sustentável, admirada e a partir disso deixe um legado, o que para ele é a grande mágica do mundo dos negócios.

Defamília: Como investidor, qual é o peso do propósito versus o retorno financeiro?

Leo Figueiredo: Eu invisto pelo propósito. Eu busco empreendedores que tenham boas práticas, porque se eles têm isso o retorno é consequência. Nós olhamos 3 grandes características em um projeto: o time e seu propósito, o impacto e o modelo de negócio. Se você tem um bom time, que trabalha com qualidade, transparência, horizontalidade e meritocracia, já está no caminho.

A empresa tem que permitir que o indivíduo encontre o que o alimenta, o que o move. A partir daí, ele fará diferença. A partir do bom propósito, você ganha um bom dinheiro.“

Há dois anos, Leo chamou as duas sócias do Quintessa, Anna de Souza Aranha e Gabriela Bonotti, e disse: “agora está nas mãos de vocês.” Mais uma vez, era chegado o momento de passar o bastão para iniciar uma nova etapa.

Leo Figueiredo: Egoicamente a tendência dos empresários fundadores, é querer que a empresa sucumba à sua “morte.” Mas a transcendência da empresa à nossa
morte é que é a grande conquista. Este é o nosso legado. E a obrigação de quem fica é honrar esse fundador, fazendo com que a empresa cresça.

Defamília: Aproveitando isso, o que você diria para presidentes de empresas familiares que tanto resistem em deixar o timão do navio?

Leo Figueiredo: Quando você enxerga o lucro como uma função social, você coloca a empresa como uma entidade, e quem trabalha nela está ali para servi-la como um soldado. Essa é uma forma mais desapegada de se ver. Um modelo mais incômodo, mas mais evolutivo. Para uma empresa ter um dono é excelente, porque ele é o cara que cuida, que olha para o executivo e diz o que deve ser feito ou não na empresa dele. Essa composição é fundamental. Uma combinação entre o senso de propriedade
e um objetivo de evolução profissional. O que acontece cada vez mais é a família sair da gestão, que passa a ser profissionalizada meritocraticamente, para “cuidar” da empresa. Sem a meritocracia não existe evolução social. A meritocracia é uma questão de dar oportunidades para que outras pessoas cheguem lá.

Defamília: E um modelo muito comum hoje em dia é o da família fazendo parte do conselho.

Leo Figueiredo: Sim, mas ter um conselho bem diversificado é importante. Se eu tivesse essa oportunidade, eu comporia um conselho muito eclético, com pessoas com experiência na vida em diversos campos, pessoas que foram donas não somente de empresas, mas de suas próprias vidas. Pessoas, por exemplo, com uma visão mais sociológica, filosófica, uma visão social, gerencial, visão de propósito.

Defamília: E sobre passar a presidência para os filhos?

Leo Figueiredo: No modelo meritocrático só cabe gestão por mérito. Se você quer que seus filhos tenham uma vida real, eles precisam estar sujeitos à competição. Eu acho que as pessoas não devem tirar de seus filhos a oportunidade deles saberem quem realmente são e o que podem ser. Como pai, é duro agir assim, mas é o melhor que você pode fazer por seu filho. Até porque ele pode querer não ser nada daquilo, ser artista, fazer escalada… Ficar na empresa pode ser uma jaula.

Hoje, Leo Figueiredo cuida de seu patrimônio, além de fazer mentoria para a aceleradora Quintessa, para o Endeavour, e, claro, faz investimentos tanto em negócios sociais como em outros tipos de negócios.

Defamília: Muita gente na hora em que vai abrir um negócio pede conselhos e, nessa hora, muitas pessoas dizem: “você está maluco, pega esse dinheiro e sai do Brasil.” O que você acha dessa visão?

Leo Figueiredo: Raros países do mundo têm um ambiente tão inóspito para empreender como o Brasil. Agora, se você tem vocação, você tem um impulso, você não tem que se condicionar a isso. Eu nunca diria não faça. Eu diria: esteja alerta para mitigar os riscos, olhar as questões regulatórias, olhar a escassez de escalabilidade de mercado, a má qualificação da mão de obra. Empreender sem sublimar o risco, algo que a gente geralmente não quer ver. É preciso precificar o risco e ter um paraquedas. Por isso eu digo: convide pessoas a participarem dessa viagem para que elas banquem a aventura com você. Desse jeito você já mitiga a maior parte dos riscos, porque as pessoas ficam mais comprometidas, mais alertas.

Defamília: Qual é o principal requisito para ser empreendedor?

Leo Figueiredo: Coragem. Coragem resume, etimologicamente falando, ação e coração. Mas eu diria que é preciso agir com coragem sem perder a razão. Você cria uma empresa para cumprir um papel que você entende que é seu na sociedade. E se você cumprir bem esse papel, o dinheiro virá.

Defamília: Tem alguma escolha que você se arrependa de ter feito?

Leo Figueiredo: Eu me arrependo das não-escolhas. A escolha é um processo com erros, mas a não-escolha é nem ter a chance de acertar. E a escolha, de qualquer forma, vai ser vista pelos outros de diferentes formas, como certa ou errada. Na hora em que você faz a escolha, conte com você e com a sua convicção de estar buscando um bem maior, e aí o erro passa a ser um fator compreensível. Se você olha as más escolhas como aprendizado, elas acabam se tornando boas escolhas, porque você aprende seus limites, suas limitações … Quando você faz uma escolha e entende que ela é o seu aprendizado, mesmo a ruim escolha é boa. Porque você não aprende no sucesso, você aprende no fracasso. É ele que te inquieta.

Defamília: O medo do erro paralisa?

Leo Figueiredo: Isso. Uma vez um sócio me disse que eu devia estar arrasado com um erro básico que cometi. E eu pensei: como eu vou falar para ele que não estou? Eu aprendi uma série de coisas com este erro! Eu não tenho medo de errar, porque isso faz parte da jornada. O que eu posso dizer para quem está começando é que erre mais cedo. Mais tarde, a licença para errar fica diminuta e até expira. Eu, por exemplo, já tenho direito a uma quantidade de erros muito pequena.

Defamília: Leo, o que te inspira? Alguma fonte em especial?

Leo Figueiredo: Eu sou um subversivo, eu junto pedaços de lugares diferentes, eu leio sobre tudo, sou muito eclético. Mas vou citar o filósofo Sócrates. Ele dizia que a vida não vale a pena ser vivida, sem poder examiná-la. Eu concordo. Se você não examina a vida, você passa por ela sem perceber. Hoje eu vejo que eu sempre tive essa curiosidade de examinar a vida e examinar todos os momentos. O meu momento é examiná-la de uma forma sem todas as lentes moralistas e controladoras que nos cercam.